quarta-feira, 16 de maio de 2007

MANINHA

Novamente no passado... Patos de Minas, minha cidade natal, com um acontecimento anual marcante até nos dias de hoje: a Festa do Milho.
Na festa havia de tudo: rodeios, esquadrilha da fumaça, shows com vários cantores. A Festa do Milho marcou a todos. Havia o concurso de rainha do milho, criando grupos adversários como na política. Com carros alegóricos,bem enfeitados com as candidatas em cima, caracterizadas. A rainha, como num conto de fadas. Eu tive uma professora no segundo ano primário que ja havia sido rainha do milho. Eu passava a aula a admirá-la. Pra mim, ela era linda. O desfile era o ponto alto, com os colégios competindo entre si e ao mesmo tempo unindo todos nas confecções dos trajes típicos com palha de milho, milho, pipoca, e tudo que se relacionava com o tema. Acompanhava por mêses a confecção de chapéus e vestidos longos cobertos com grãos de milho, pregados um por um com agulha e linha. Os colégios começavam a se preparar meses antes. A fanfarra, ensaiava todo dia. Todos subiam para assistir o desfile. Todos de roupa nova, que era comprada para a ocasião. Em uma dessas festas, ganhei um balão com gás hélio. Quis preservá-lo, deixando-o no forro do meu quarto. No outro dia me deparei com o balão murchinho, coisa de criança...
Também ganhei um vestido e também um sapato novo. Que cuidava com todo zelo, pois naquela época, roupa nova era coisa de realização plena. Então minha prima Lazinha foi me levar ao show do Roberto Carlos, de quem eu era fã incondicional. Antes do show me dei a imaginar em como seria. Imaginei que ele saberia que ali na plateia havia uma garota que sabia todas as suas músicas e que ele até me convidaria para cantar com ele. Cheguei até a ensaiar. Fui para o show como quem vai para o céu... Porém, quando chegamos, o campo de futebol estava todo tomado de pessoas. Havia chovido, tudo era só lama. Custamos a entrar. Ficamos fora do alambrado. E ouvia a voz de meu ídolo bem longe, cheia de ruídos. Vi apenas seu vulto, longe em um palco no meio do gramado. Criando uma situação mais de sobrevivência do que de diversão. Fui embora decepcionada e bem amassada, ficando ali meus sonhos e também meu pé de sapato novo, que no outro dia, fui procurar sem encontrar, me causando grande tristeza ao olhar para um pé novinho, sem saber onde o outro estava. Até hoje queria encontrá-lo. Como se isso fosse resolver aquela minha perda... É, a gente as vezes pensa que vai recuperar o tempo perdido...
Então estou no presente, no meio da tarde me preparando para a noite assistir ao meu Chico Buarque, na companhia de minha filha mais velha, que me superou no favoritismo pelo Chico, de seu esposo e do meu pretinho,companhia fundamental nesta minha peregrinaçao chiquiniana, porque quem como eu, já o experimentou tanto e tantas vezes, sabe que ele já incorporou na minha alma. Sabe também que o tenho como meu, e que não importo que ele seja de outros, pois sei da sua grandeza. E o fato de ir ao seu show imaginando coisas, com o coração palpitantado desejos, só me faz ver a criança que ainda há em mim. Criança que se decepcionou com um sonho impossível e que agora espera estar preparada para o que na noite vai vir.

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