quinta-feira, 26 de abril de 2007

RASCUNHO DO FUTURO

Comecei a recordar e de repente me dei com uma pergunta: Onde foram parar meus brinquedos? Que não eram tantos, mas me lembro especialmente de uma boneca que me acompanhou durante um bom tempo. Ela foi um presente de Natal, e uma boneca com cabelo naquela época, pra mim foi uma realização total.
No quintal de minha casa tinha um paiol, onde meu pai criava porcos em baixo e em cima eu me instalei com meus brinquedos. Ali a boneca desempenhava o papel de minha filha e eu, senhora, mandava e desmandava. Fazia e acontecia. Minha imaginação rondava todo o possível e o impossível. Como em minha casa não se fazia árvore de Natal, ali eu tinha a minha, com algodão e goiabas verdes pintadas com giz. Ali dei aula com freqüência e tudo, para as crianças mais novas. Fiz cozinhadinho.
E o tempo passou... É incrível como o tempo passa sorrateiro, fazendo cócegas com novos e novos brinquedos.
E sem querer fui me transformando, escondendo meus seios como se escondesse um pecado. Rasguei também vários lençóis até entender e aceitar aquilo que meu corpo impunha.
Quando desencantei de meu mundo imaginário, não lembro. Mas sei que continuei brincando com bonecas verdadeiras, com quem compartilhava todo o conhecimento adquirido com os brinquedos. E participei de suas infâncias como uma criança crescida que sabe da importância de se rascunhar a vida, por que as brincadeiras mudam de facetas, nos encantando para que nós possamos aguentar o duro e aprender em direção ao nada.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

CABEÇA BAIXA

Abriu-se uma fresta e por ela vazou-se uma porra que impregnou tudo o que havia de belo.
Uma porra visguenta, fedida, velha que a tudo contaminou.
Tenta-se em vão contornar a situação ali instalada.
Porras novas jorraram aos borbotões, mas não tiveram efeito sobre a sujeira.
Aceitando a camuflagem que ali se instalou de maneira concreta.
Abaixou-se a cabeça.