domingo, 18 de março de 2007

ALMAS SECAS

De férias em Brodowski fomos, o Robson e eu, a uma Lan House para que ele, já inserido nas vias "internéticas", colocasse seus e-mails, orkut, blogs, de acordo com a sua inspiração do dia, que não tinha nada a dever aos céus. Surgindo coisas maravilhosas e também outras obrigações nem tanto urgentes, mas sementes necessárias de uma linguagem em nascimento.
Quando chegavamos a Lan fiquei absorta observando a beleza, o mistério, e ao mesmo tempo o descaso e o abandono da casa onde funcionava a Lan.
A casa me intrigou bastante, me tocou profundamente vê-la consumidade pela modernidade, "pela força da grana que ergue e destrói coisas belas." Me indiguinei mais ainda.
No seu jardim uma fonte, única, que deve ter sido em outros tempos o ponto máximo da arquitetura local e que agora passa desapercebida. Um pequeno altar incrustado na parede, agora orfão de santo, também muito significatio. A varanda apoiada em finos canos, que sustentam a laje, com a garagem ao lado, que parece nunca ter sido usada. A casa toda de laje, coisa rara em tempos antigos. Paredes com tijolos deitados, bem largas, sendo que cada janela dá direito a um bom encosto. Janelas com venezianas iluminando toda a casa. Obs.: quando se entra na casa, sente-se a agressão. As paredes foram pintadas de preto para caracterizar uma coisa punk, metálica, submundo com computadores alinhados rumo ao futuro.
Eu uma analfabeta digital, diante de tantos jovens, com tantas direções na tela, às vezes até interagindo entre eles. Indiferentes ao meio externo. Pouca luz, ventiladores de parede e teto a todo vapor, janelas lacradas com compensados, não deixando entrar luz, que atrapalharia a visão do monitor.
Na entrada uma sala enorme com dois ambientes, com uma singela lareira e já sem seus lustres, substituídos por luz neon, paredes negras grafitadas. Adentrando mais um pouco, chega-se a outra sala, também negra, janela e portas lacradas, mas com lustre ainda no lugara, empoeirado, mas imponente.
Um quarto ao lado com enorme guarda-roupa lacrado com a rede elétrica provisória, janela sem visão e outros tantos cibernéticos. Me sentindo exclusa comecei a tentar enlaçar o presente com o passado. Mil perguntas me vieram a mente. Como se viveu naquela casa? O que poderia ter acontecido para que aquele primor arquitetônico estivesse ali sendo tão escrachado? Uma casa orfã de passado? Será que não se criou ali nenhum tipo de consciência?
E não podia fazer nada, a não ser bancar a arqueóloga, e tentar tirar de sua composição o seu passado. Noutro dia falando com o Emílio, morador antigo do lugar, que me disse ter sido aquela casa a mais bonita da cidade. Construída por uma mulher, apenas por ela, que se casou depois de um namoro de longos trinta anos, não deixando filhos. E já os dois falecidos. Essa questão me arremeteu a uma questão que há muito me ronda. Não poder colocar na bagagem a casa de minha infância.
Será que somente os filhos tem prazer em preservar a memória dos seus pais, de sua casa? Moraria ali alguém que se deva apagar urgente da memória?
Quem se tornou o infeliz proprietário?

5 comentários:

nosbor.araujo disse...

gosto de te ver escrever e se não puder mesmo parar vou gostar ainda mais.

Babi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Babi disse...

Droga...
Era só pra editar...

Vcs (Papi e Mami) estão escrevendo combinando...

Deve ter algo relacionado com os 30 anos de convivência!!!!

Cássio Amaral disse...

Cara,
Muito bom seu texto.
Sou messiânico e numa boa acho que o respeito pelos antepassados vem em primeiro lugar.
Você e Robson são demais.
Sou fã de vcs.
Abração muita luz e saúde.

GAIA TERRA disse...

Ô MOÇA QUE ESCREVE BONITO SÔ!
Bjim da Gaia e da Sil