Nas grades do jardim,pardais querem o sol .
Eu banalizo o sol, quero o dia,
que burrice
O pássaro na sabedoria do essencial,
quer apenas o sol
E canta pra ele
terça-feira, 16 de outubro de 2007
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
PERSONA
Porque achamos que nossa grandeza esta nas coisas que almejamos e não temos inteligência para aproveitarmos o que o agora está nos oferecendo. Ou estamos indo, ou então estamos escorregando de nós mesmos. Numa busca sem fim. Será que buscamos apenas pela natureza em nós ou nos tornamos reféns de nossa armadura que nos deixa ver somente a meta, sem termos conhecimento sequer de nossa barriga....
SOLAMENTE
Havia a lua
Embaixo a estrela
Passos na noite
Infinita amargura
Havia a lua
Embaixo a estrela
No resto do ceu
O grande vazio
Havia a lua
Embaixo a estrela
Carros passantes
Indiferentes homens
Havia a lua
Embaixo a estrela
Virando a esquina
Senhora ironia
Havia a lua
Embaixo a estrela
Janelas fechadas
Numa noite sem fim
Havia a lua
Embaixo a estrela
Noites em claro
Dias em vão
Embaixo a estrela
Passos na noite
Infinita amargura
Havia a lua
Embaixo a estrela
No resto do ceu
O grande vazio
Havia a lua
Embaixo a estrela
Carros passantes
Indiferentes homens
Havia a lua
Embaixo a estrela
Virando a esquina
Senhora ironia
Havia a lua
Embaixo a estrela
Janelas fechadas
Numa noite sem fim
Havia a lua
Embaixo a estrela
Noites em claro
Dias em vão
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
PEDALO PORQUE?
Pedalando comecei a pensar sobre a bicicleta. Estava voltando de um treino no velódromo, passei pelo parque e ali encontrei uma equipe de televisão entrevistando um ciclista sobre o seu cotidiano no trânsito. Me perguntei: "Alguém que nunca esteve no meio do trânsito conseguiria entender o que nos envolve neste momento? O que sentimos? O que nos move?"
Comecei a pensar no que eu falaria e meu coração começou a vibrar com a poesia que a mim chegou naquele momento. Me perguntei: "O que o ato de pedalar me traz?" Então tive uma visão que me mostrou o que sinto, indiferente do que sou.
A bicicleta consegue dispor as pessoas de sua máscara usual. Porque em cima dela você está sozinho. Não isolado. Mas só, consigo mesmo. Uma companhia seria muito agradável, mas ali existiria um relacionamento bem peculiar.
A começar, a pessoa terá que ter bastante humildade. Porque ali não será testado apenas sua condição física, mas o que você está disposto a dar em troca de uma afinidade maior com as duas rodas. Será exposto toda a sua condição humana diante de um desafio.
Você vai ter que submeter-se ao que o caminho lhe oferecer.
Para ele não interessa se você é velho ou novo, homem ou mulher, rico ou pobre. Ele apenas vai estar ali, a sua disposição. Porém se você topar a briga, em algum momento você vai se ver com sua companheira bicicleta e ninguém mais. Vai começar a cuidar dela como se cuida de uma namorada. Ela pode até despertar ciúmes dos seus.
Existem sensações que seria difícil passar para pessoas que não as viveram como o que se sente quando num quebra mola você passa batido enquanto carrões e caminhões quase param. A gente se sente por um instante donos da situação.
Pessoas começam a utilizar a bicicleta como meio de transporte, um meio de economizar e de repente ali, elas se veêm fortes, como que reagindo as duras leis do capitalismo. Não se sentem mais tão a mercê, sentem-se fortes criando uma nova espectativa no seu cotidiano tao limitado aos cifroes.
Indiferente de quais sejam, as bicicletas se compõem. Cria-se uma cumplicidade e ao mesmo tempo um desafio, solitário ou mútuo.
Pois digo que o prazer oferecido indiferente da bicicleta será dado pela alma de quem a conduz. O condutor terá ao mesmo tempo de receber e dar. Terá ao mesmo tempo que conduzir e ser conduzido. E nas batalhas que por certo virão pelo caminho na hora h, você vai se ver tete a tete com você. E se você se superar sentirá um grande prazer, um prazer que não é comprado, mas adquirido com o seu suor e com a sua vontade. E nesse momento mágico você se sentirá vivo, desprendido de suas muletas cotidianas.
Lidando com pessoas nesse momento numa mesma condição, nascerão amizades entre os participantes.
Mas o que quero dizer, é que pedalando encontrei coisas maravilhosas e queria poder passar tudo isso pra frente e se for pra alguém sobre duas rodas, vai ser mágico e ideal. E nas minhas doses de beta endorfina deixo o meu respeito à bicicleta, aos ciclistas, ao esporte...
sexta-feira, 20 de julho de 2007
TARTARUGA
Um dia veio à nossa casa um garoto com uma Aro 20 querendo se entrosar com a gente. Contando suas mazelas e contatos. Não me lembro de sua fisionomia na época, porque depois que nos conhecemos, ao longo dos anos ele se transformou completamente.
Tudo que escrevo não terá sentido se eu não contar o que nele o fez assim. Ele tinha diabetes infantil. E me disse claramente que não chegaria aos 30, talvez aos 25, chegou aos 27.
Não pense que isso o deixava paranóico, cuidadoso. Isso para ele era um fato que ele ia administrando com um toque especial que só ele tinha. De dietas rígidas passava para rodízios de pizza com muita coca-cola. Depois de verificar o menu de sua casa, caso não lhe agradasse vinha aqui em casa ver se tinha algo melhor. Teve uma fase em que se tornou crente. E acreditou que seria curado. Parou de tomar insulina, converteu sua avó, rezava dia e noite. E um dia, ao ser interpelado sobre a vericidade de sua fé, disse que tinha a melhor Bíblia do mundo: "uma Thompson". O irmão que o interpelava disse que ele não era digno de ter uma Thompson e quis comprá-la, ficando a história para os anais.
Outra característica sua e que a natureza fez questão de demarcar foi que ele mentia muito. Seu aniversário era no dia 1º de abril e não sei se ele acatou a idéia, mas mentia às vezes com uma maestria e às vezes tão descaradamente que me parecia que ele estava zombando do tempo que lhe restava e o queria fazer acontecer à sua maneira.
Ao longo do tempo, foi se entrosando no meio esportivo. Conhecia todos e todos o conheciam. Com toda a sua categoria, tornou-se técnico de dois garotos de Anápolis, filhos de um médico, assumindo o papel como tal.
Participou de duathlons, maratonas, corridas de rua, de ciclismo... Mas sempre com um resultado aquém dos outros participantes. Participava de maratonas, a gente sempre o acompanhava de bicicleta, teve uma que ele calçou todos os tênis de quem chegasse perto dele, um foi o meu, outro do Leandro Macedo. E sempre era o último. Depois de 8 horas, sempre tinha muitos amigos para recebê-lo. Sua chegada era comemorada pelos amigos como se ele fosse o primeiro.
Como ciclista, se tornou o lendário Tartaruga Ninja, Tartaruga, Tarta, Ninja. Conseguiu esse apelido numa competição no velódromo em que usava um capacete como o dos Tartarugas Ninja. E na largada foi tão lento que chamou a atenção de todos. Sendo ali chamado de Tartaruga Ninja. A partir daí, acatou o apelido. E se entrosou definitivamente no meio ciclístico, passando a ter os melhores equipamentos. Não tinha o ritmo, mas tinha uma postura magnífica na bicicleta. Todos os ciclistas têm uma história sobre ele, basta perguntar.
De família humilde, cercado por quatro mulheres solitárias, para elas ele era tido com um rei. Ficavam ao seu lado como gueixas, lhe satisfazendo os desejos.
Depois de passar no concurso do bombeiro para paramédico, seu sonho de criança, resolveu fazer uma operação nos olhos, mesmo sabendo dos riscos por ser diabético. Queria deixar de usar óculos. Mais tarde foi tendo derrames nos olhos e perdendo a visão aos poucos. Teve um derrame, indo para uma cadeira de rodas, passando a fazer hemodiálise e vimos como num teatro a falência gradativa de seu corpo. No seu enterrro,18/04/1999 cantei Canção da América, deixando ali meu amigo Tartaruga, que, com certeza, será uma boa companhia do outro lado.
Tudo que escrevo não terá sentido se eu não contar o que nele o fez assim. Ele tinha diabetes infantil. E me disse claramente que não chegaria aos 30, talvez aos 25, chegou aos 27.
Não pense que isso o deixava paranóico, cuidadoso. Isso para ele era um fato que ele ia administrando com um toque especial que só ele tinha. De dietas rígidas passava para rodízios de pizza com muita coca-cola. Depois de verificar o menu de sua casa, caso não lhe agradasse vinha aqui em casa ver se tinha algo melhor. Teve uma fase em que se tornou crente. E acreditou que seria curado. Parou de tomar insulina, converteu sua avó, rezava dia e noite. E um dia, ao ser interpelado sobre a vericidade de sua fé, disse que tinha a melhor Bíblia do mundo: "uma Thompson". O irmão que o interpelava disse que ele não era digno de ter uma Thompson e quis comprá-la, ficando a história para os anais.
Outra característica sua e que a natureza fez questão de demarcar foi que ele mentia muito. Seu aniversário era no dia 1º de abril e não sei se ele acatou a idéia, mas mentia às vezes com uma maestria e às vezes tão descaradamente que me parecia que ele estava zombando do tempo que lhe restava e o queria fazer acontecer à sua maneira.
Ao longo do tempo, foi se entrosando no meio esportivo. Conhecia todos e todos o conheciam. Com toda a sua categoria, tornou-se técnico de dois garotos de Anápolis, filhos de um médico, assumindo o papel como tal.
Participou de duathlons, maratonas, corridas de rua, de ciclismo... Mas sempre com um resultado aquém dos outros participantes. Participava de maratonas, a gente sempre o acompanhava de bicicleta, teve uma que ele calçou todos os tênis de quem chegasse perto dele, um foi o meu, outro do Leandro Macedo. E sempre era o último. Depois de 8 horas, sempre tinha muitos amigos para recebê-lo. Sua chegada era comemorada pelos amigos como se ele fosse o primeiro.
Como ciclista, se tornou o lendário Tartaruga Ninja, Tartaruga, Tarta, Ninja. Conseguiu esse apelido numa competição no velódromo em que usava um capacete como o dos Tartarugas Ninja. E na largada foi tão lento que chamou a atenção de todos. Sendo ali chamado de Tartaruga Ninja. A partir daí, acatou o apelido. E se entrosou definitivamente no meio ciclístico, passando a ter os melhores equipamentos. Não tinha o ritmo, mas tinha uma postura magnífica na bicicleta. Todos os ciclistas têm uma história sobre ele, basta perguntar.
De família humilde, cercado por quatro mulheres solitárias, para elas ele era tido com um rei. Ficavam ao seu lado como gueixas, lhe satisfazendo os desejos.
Depois de passar no concurso do bombeiro para paramédico, seu sonho de criança, resolveu fazer uma operação nos olhos, mesmo sabendo dos riscos por ser diabético. Queria deixar de usar óculos. Mais tarde foi tendo derrames nos olhos e perdendo a visão aos poucos. Teve um derrame, indo para uma cadeira de rodas, passando a fazer hemodiálise e vimos como num teatro a falência gradativa de seu corpo. No seu enterrro,18/04/1999 cantei Canção da América, deixando ali meu amigo Tartaruga, que, com certeza, será uma boa companhia do outro lado.
segunda-feira, 2 de julho de 2007
SILVÂNIA
Quem são os alienados?
Os habitantes das grandes cidades ou os habitantes das cidades do interior? Bom vamos contar a história do começo. Depois do convite de ir a sua cidade natal, feita por Salomão Sousa nos dirigimos a Silvânia,cidade em questão. Fomos com nossas bagagens, tanto as materiais como aquela de que "meus ombros sustentam o mundo", que de certa forma quer dizer que estávamos um tanto sem expectativa quanto a viagem, ou pelo menos eu estava.Porém fui surpreendida tantas e tantas vezes que me deu vontade de registrar pelo menos algumas. Fiquei encantada primeiro pela hospitalidade de todos e principalmente por Salomão e Chiquinha que trouxeram para Silvânia todo o acontecimento preparado e calculado nas menores coisas todas direcionadas a seus convidados. Sua família aos poucos conseguiu criar com todos os visitantes um ambiente totalmente descontraído. É muito bom conversar com pessoas que estão com você por inteiro, as partes se soltam por completo num momento mágico. E ali de um dia para o outro éramos uma grande turma de adolescentes. Naquela cidade que tinha um parque, ex-colégio Marista, com estradas cercadas por lagos, palmeiras e árvores frutíferas, eugênias, jambo, criando sombras com um tapete de flores róseas que se tornavam um convite irresistível a uma caminhada contemplativa. Ali conheci Zezinho e esposa, Rosa, Toninho ,Bete, Sansão, a mãe de Salomão que não se entregou a idade, fazendo lindas colchas de retalhos,pão de queijo,e cuidado do anjo Gabriel e muitos outros conheci. A cidade evidencia a marca do tempo, com igrejas e casarios marcantes, os não recuperados marcam mais ainda, ao lado de construções atuais. Ao mesmo tempo nas ruas você encontra pessoas que mantêm os costumes antigos nas roupas e no cigarro de palha, diante de carrões com sons estridentes de uma juventude pra mim alienada, sendo essa a sua forma de se integrar no cotidiano. Mas creio que o que os rodeia está dentro deles, mas do que dentro de mim que ali de passagem me soltei um pouquinho, porém para eles o seu cotidiano renegado ou não, os contagia para que num futuro de busca voltem aos antepassados, como uma forma de reencontro com si mesmos. Isto foi o que senti no lançamento do livro de Salomão junto a sua cidade. Um reencontro do passado com o presente indo em busca ao futuro. Ali Salomão como que agradeceu, como eu o agradeço pois fiquei marcada com coisas muito boas neste meu coro duro e ressecado de uma urbanoide alienada pela pressa da cidade que nos consome. Mais uma vez obrigado.
Os habitantes das grandes cidades ou os habitantes das cidades do interior? Bom vamos contar a história do começo. Depois do convite de ir a sua cidade natal, feita por Salomão Sousa nos dirigimos a Silvânia,cidade em questão. Fomos com nossas bagagens, tanto as materiais como aquela de que "meus ombros sustentam o mundo", que de certa forma quer dizer que estávamos um tanto sem expectativa quanto a viagem, ou pelo menos eu estava.Porém fui surpreendida tantas e tantas vezes que me deu vontade de registrar pelo menos algumas. Fiquei encantada primeiro pela hospitalidade de todos e principalmente por Salomão e Chiquinha que trouxeram para Silvânia todo o acontecimento preparado e calculado nas menores coisas todas direcionadas a seus convidados. Sua família aos poucos conseguiu criar com todos os visitantes um ambiente totalmente descontraído. É muito bom conversar com pessoas que estão com você por inteiro, as partes se soltam por completo num momento mágico. E ali de um dia para o outro éramos uma grande turma de adolescentes. Naquela cidade que tinha um parque, ex-colégio Marista, com estradas cercadas por lagos, palmeiras e árvores frutíferas, eugênias, jambo, criando sombras com um tapete de flores róseas que se tornavam um convite irresistível a uma caminhada contemplativa. Ali conheci Zezinho e esposa, Rosa, Toninho ,Bete, Sansão, a mãe de Salomão que não se entregou a idade, fazendo lindas colchas de retalhos,pão de queijo,e cuidado do anjo Gabriel e muitos outros conheci. A cidade evidencia a marca do tempo, com igrejas e casarios marcantes, os não recuperados marcam mais ainda, ao lado de construções atuais. Ao mesmo tempo nas ruas você encontra pessoas que mantêm os costumes antigos nas roupas e no cigarro de palha, diante de carrões com sons estridentes de uma juventude pra mim alienada, sendo essa a sua forma de se integrar no cotidiano. Mas creio que o que os rodeia está dentro deles, mas do que dentro de mim que ali de passagem me soltei um pouquinho, porém para eles o seu cotidiano renegado ou não, os contagia para que num futuro de busca voltem aos antepassados, como uma forma de reencontro com si mesmos. Isto foi o que senti no lançamento do livro de Salomão junto a sua cidade. Um reencontro do passado com o presente indo em busca ao futuro. Ali Salomão como que agradeceu, como eu o agradeço pois fiquei marcada com coisas muito boas neste meu coro duro e ressecado de uma urbanoide alienada pela pressa da cidade que nos consome. Mais uma vez obrigado.
segunda-feira, 21 de maio de 2007
PEDAGIO
A abertura e a busca por um caminho comum, vem quando você está aberto ao outro. Minha casa sempre foi aberta, não precisando permissão para entrar. A porta não se trancava, correndo o risco de se encontrar sozinho na casa, com tudo disponível a quem chegasse. Típico de casa de interior. As pessoas não se guardavam das outras, estavam sim abertas para as novidades de transformações vindas de outros centros mais evoluídos. Minha casa tinha o apelido de hotel do sossego, pois hospedou vários amigos, que vinham matar a saudade da terra natal, trazendo novidades, rememorando o passado. Servindo de transição neste emigrar forçado em busca de vida melhor.
No meu jeito mineiro nunca precisei colocar em negritos ate onde o outro poderia chegar. Sempre tive consciência ou intuição de que, não se é atingido, se o que vem, não tem relação direta com o que se é. Mais tarde essa posição se estabeleceu com a mudança para minha rua, de meu pretinho, que já vinha cultivando amizades a muito.
na minha casa continuou essa abertura. as portas agora bem trancadas, pois os tempos e o lugar são outros. porem sempre com amigos e ate futuros amigos. gostamos de receber pessoas com outros horizontes,com expectativas puras,com sonhos, sim pessoas que sonham. Não digo sonhos materiais mas sonhos autênticos, que podem ser loucos ou não.
Neste ponto houve uma união entre o outro e a outra. Bom o outro acabei de falar, agora a outra posso dizer que e uma paixão: a bicicleta. Veículo bípede de alma: com o chão como suporte para elevar o homem ao céu . Quem já andou de bicicleta sabe disso, agora quem já viajou, só estes entendem de sua companhia, nos entraves trocados entre o homem e a máquina, fica a certeza de que ela é companheira pra qualquer aventura, criando ali uma cumplicidade de corpo e alma.
Em minha casa já se hospedaram vários ciclistas que tendo Brasília como meta ou estando aqui de passagem , em busca de sonhos,, querendo se encontrar ou apenas para aplacar a dor da alma nos brindaram com homens sem sua persona usual .
Tivemos Valmir do rio,que por duas vezes veio a câmara protestar voltando depois sem bicicleta apenas de visita, seu Nilo de Santos que com seus setenta e tantos veio lutar por uma aposentadoria melhor, nos deixando a lembrança de seus olhos infantis . Cleverson que atravessou a Amazônia com o retrato da família como escolta, Cremogema ciclista de Petrópolis que dizia aguentar tudo aquilo porque de manhã tomava seu mingau de cremogema, artista plástico do Paraná que nos deixou um mobile, que ate hoje balança no quintal, Ronildo que tentando fugir da rotina paulistana nos deixou uma bússula para melhor nos orientarmos. O ciclista de São Gonçalo que gostava de um conhaque, o argentino Adrian que foi tão especial com seu violão e gaita, que nos brindava a tarde com um blues, nos colocou todos a cata de uma erva mate do Paraguai, que adorava pão de queijo e guaraná e nos ofereceu o seu pastel feito na cozinha da Bizé, que veio de Ushuaia indo em direção ao Alasca,viagem interrompida pela doença do pai quando se encontrava na Venezuela, estando hoje em Ushuaia estudando turismo. Hoje estamos aqui com um novo hospede, que de inicio nos pareceu mais um doido e que a cada dia nos mostra a cara de uma juventude avida de bem. Lucca com seus vinte anos criou para si um propósito digno de um grande homem: conhecer a sua terra . Com a inteligência e a educação, que a mim parece de uma criança criada com direção ampla da vida , que nos surpreendeu com tanta objetividade. Brilho nos olhos e convicçao no que faz. E estamos aqui, se voce quizer participar e bem vindo . se quizer ajudar mais ainda.
No meu jeito mineiro nunca precisei colocar em negritos ate onde o outro poderia chegar. Sempre tive consciência ou intuição de que, não se é atingido, se o que vem, não tem relação direta com o que se é. Mais tarde essa posição se estabeleceu com a mudança para minha rua, de meu pretinho, que já vinha cultivando amizades a muito.
na minha casa continuou essa abertura. as portas agora bem trancadas, pois os tempos e o lugar são outros. porem sempre com amigos e ate futuros amigos. gostamos de receber pessoas com outros horizontes,com expectativas puras,com sonhos, sim pessoas que sonham. Não digo sonhos materiais mas sonhos autênticos, que podem ser loucos ou não.
Neste ponto houve uma união entre o outro e a outra. Bom o outro acabei de falar, agora a outra posso dizer que e uma paixão: a bicicleta. Veículo bípede de alma: com o chão como suporte para elevar o homem ao céu . Quem já andou de bicicleta sabe disso, agora quem já viajou, só estes entendem de sua companhia, nos entraves trocados entre o homem e a máquina, fica a certeza de que ela é companheira pra qualquer aventura, criando ali uma cumplicidade de corpo e alma.
Em minha casa já se hospedaram vários ciclistas que tendo Brasília como meta ou estando aqui de passagem , em busca de sonhos,, querendo se encontrar ou apenas para aplacar a dor da alma nos brindaram com homens sem sua persona usual .
Tivemos Valmir do rio,que por duas vezes veio a câmara protestar voltando depois sem bicicleta apenas de visita, seu Nilo de Santos que com seus setenta e tantos veio lutar por uma aposentadoria melhor, nos deixando a lembrança de seus olhos infantis . Cleverson que atravessou a Amazônia com o retrato da família como escolta, Cremogema ciclista de Petrópolis que dizia aguentar tudo aquilo porque de manhã tomava seu mingau de cremogema, artista plástico do Paraná que nos deixou um mobile, que ate hoje balança no quintal, Ronildo que tentando fugir da rotina paulistana nos deixou uma bússula para melhor nos orientarmos. O ciclista de São Gonçalo que gostava de um conhaque, o argentino Adrian que foi tão especial com seu violão e gaita, que nos brindava a tarde com um blues, nos colocou todos a cata de uma erva mate do Paraguai, que adorava pão de queijo e guaraná e nos ofereceu o seu pastel feito na cozinha da Bizé, que veio de Ushuaia indo em direção ao Alasca,viagem interrompida pela doença do pai quando se encontrava na Venezuela, estando hoje em Ushuaia estudando turismo. Hoje estamos aqui com um novo hospede, que de inicio nos pareceu mais um doido e que a cada dia nos mostra a cara de uma juventude avida de bem. Lucca com seus vinte anos criou para si um propósito digno de um grande homem: conhecer a sua terra . Com a inteligência e a educação, que a mim parece de uma criança criada com direção ampla da vida , que nos surpreendeu com tanta objetividade. Brilho nos olhos e convicçao no que faz. E estamos aqui, se voce quizer participar e bem vindo . se quizer ajudar mais ainda.
quarta-feira, 16 de maio de 2007
MANINHA
Novamente no passado... Patos de Minas, minha cidade natal, com um acontecimento anual marcante até nos dias de hoje: a Festa do Milho.
Na festa havia de tudo: rodeios, esquadrilha da fumaça, shows com vários cantores. A Festa do Milho marcou a todos. Havia o concurso de rainha do milho, criando grupos adversários como na política. Com carros alegóricos,bem enfeitados com as candidatas em cima, caracterizadas. A rainha, como num conto de fadas. Eu tive uma professora no segundo ano primário que ja havia sido rainha do milho. Eu passava a aula a admirá-la. Pra mim, ela era linda. O desfile era o ponto alto, com os colégios competindo entre si e ao mesmo tempo unindo todos nas confecções dos trajes típicos com palha de milho, milho, pipoca, e tudo que se relacionava com o tema. Acompanhava por mêses a confecção de chapéus e vestidos longos cobertos com grãos de milho, pregados um por um com agulha e linha. Os colégios começavam a se preparar meses antes. A fanfarra, ensaiava todo dia. Todos subiam para assistir o desfile. Todos de roupa nova, que era comprada para a ocasião. Em uma dessas festas, ganhei um balão com gás hélio. Quis preservá-lo, deixando-o no forro do meu quarto. No outro dia me deparei com o balão murchinho, coisa de criança...
Também ganhei um vestido e também um sapato novo. Que cuidava com todo zelo, pois naquela época, roupa nova era coisa de realização plena. Então minha prima Lazinha foi me levar ao show do Roberto Carlos, de quem eu era fã incondicional. Antes do show me dei a imaginar em como seria. Imaginei que ele saberia que ali na plateia havia uma garota que sabia todas as suas músicas e que ele até me convidaria para cantar com ele. Cheguei até a ensaiar. Fui para o show como quem vai para o céu... Porém, quando chegamos, o campo de futebol estava todo tomado de pessoas. Havia chovido, tudo era só lama. Custamos a entrar. Ficamos fora do alambrado. E ouvia a voz de meu ídolo bem longe, cheia de ruídos. Vi apenas seu vulto, longe em um palco no meio do gramado. Criando uma situação mais de sobrevivência do que de diversão. Fui embora decepcionada e bem amassada, ficando ali meus sonhos e também meu pé de sapato novo, que no outro dia, fui procurar sem encontrar, me causando grande tristeza ao olhar para um pé novinho, sem saber onde o outro estava. Até hoje queria encontrá-lo. Como se isso fosse resolver aquela minha perda... É, a gente as vezes pensa que vai recuperar o tempo perdido...
Então estou no presente, no meio da tarde me preparando para a noite assistir ao meu Chico Buarque, na companhia de minha filha mais velha, que me superou no favoritismo pelo Chico, de seu esposo e do meu pretinho,companhia fundamental nesta minha peregrinaçao chiquiniana, porque quem como eu, já o experimentou tanto e tantas vezes, sabe que ele já incorporou na minha alma. Sabe também que o tenho como meu, e que não importo que ele seja de outros, pois sei da sua grandeza. E o fato de ir ao seu show imaginando coisas, com o coração palpitantado desejos, só me faz ver a criança que ainda há em mim. Criança que se decepcionou com um sonho impossível e que agora espera estar preparada para o que na noite vai vir.
Na festa havia de tudo: rodeios, esquadrilha da fumaça, shows com vários cantores. A Festa do Milho marcou a todos. Havia o concurso de rainha do milho, criando grupos adversários como na política. Com carros alegóricos,bem enfeitados com as candidatas em cima, caracterizadas. A rainha, como num conto de fadas. Eu tive uma professora no segundo ano primário que ja havia sido rainha do milho. Eu passava a aula a admirá-la. Pra mim, ela era linda. O desfile era o ponto alto, com os colégios competindo entre si e ao mesmo tempo unindo todos nas confecções dos trajes típicos com palha de milho, milho, pipoca, e tudo que se relacionava com o tema. Acompanhava por mêses a confecção de chapéus e vestidos longos cobertos com grãos de milho, pregados um por um com agulha e linha. Os colégios começavam a se preparar meses antes. A fanfarra, ensaiava todo dia. Todos subiam para assistir o desfile. Todos de roupa nova, que era comprada para a ocasião. Em uma dessas festas, ganhei um balão com gás hélio. Quis preservá-lo, deixando-o no forro do meu quarto. No outro dia me deparei com o balão murchinho, coisa de criança...
Também ganhei um vestido e também um sapato novo. Que cuidava com todo zelo, pois naquela época, roupa nova era coisa de realização plena. Então minha prima Lazinha foi me levar ao show do Roberto Carlos, de quem eu era fã incondicional. Antes do show me dei a imaginar em como seria. Imaginei que ele saberia que ali na plateia havia uma garota que sabia todas as suas músicas e que ele até me convidaria para cantar com ele. Cheguei até a ensaiar. Fui para o show como quem vai para o céu... Porém, quando chegamos, o campo de futebol estava todo tomado de pessoas. Havia chovido, tudo era só lama. Custamos a entrar. Ficamos fora do alambrado. E ouvia a voz de meu ídolo bem longe, cheia de ruídos. Vi apenas seu vulto, longe em um palco no meio do gramado. Criando uma situação mais de sobrevivência do que de diversão. Fui embora decepcionada e bem amassada, ficando ali meus sonhos e também meu pé de sapato novo, que no outro dia, fui procurar sem encontrar, me causando grande tristeza ao olhar para um pé novinho, sem saber onde o outro estava. Até hoje queria encontrá-lo. Como se isso fosse resolver aquela minha perda... É, a gente as vezes pensa que vai recuperar o tempo perdido...
Então estou no presente, no meio da tarde me preparando para a noite assistir ao meu Chico Buarque, na companhia de minha filha mais velha, que me superou no favoritismo pelo Chico, de seu esposo e do meu pretinho,companhia fundamental nesta minha peregrinaçao chiquiniana, porque quem como eu, já o experimentou tanto e tantas vezes, sabe que ele já incorporou na minha alma. Sabe também que o tenho como meu, e que não importo que ele seja de outros, pois sei da sua grandeza. E o fato de ir ao seu show imaginando coisas, com o coração palpitantado desejos, só me faz ver a criança que ainda há em mim. Criança que se decepcionou com um sonho impossível e que agora espera estar preparada para o que na noite vai vir.
domingo, 13 de maio de 2007
AUTOFALANTES
Julio, meu irmão, companheiro de todas as brincadeiras na infância. Franzino e esperto.
No clube companheiro na natação e volei. No início eu me sobressaía, mas não tardou a me mostrar o quanto era superior. Às vezes fico tentando desvendar outros caminhos que ele seguiu e eu não participei, por que a gente estava sempre junto.
Era apontado por todos como o gênio da família e da rua. Desde muito cedo consertava os eletrônicos, fazia as instalações elétricas das casas que meu pai construia, passou na UnB sem fazer cursinho, montou seu som equalizado e equipou uma discoteca em casa, onde faziamos sons aos sábados depois de bem encerar os tacos e jogar bastante talco, adorava música, fã de kraftwert, caetano e miltom.
A vida nos dá espaços e em algum ponto me vi diante de suas próprias convicções, uma característica sua era a capacidade de chegar ao extremo de tudo. Seu bolo de chocolate feito num ritual de preparo sobre os olhos dos sobrinhos é lembrado até hoje. Que delícia!
Na Universidade se declarou homossexual. Não com palavras, porque ele nunca falou sobre isso com ninguém que eu tenha conhecimento. Não sobre ele. Falava sim do homem em potencial. A sua posição me intrigou muito. É incrível como a gente diante de certas coisas não consegue encontrar o coeficiente comum. A família engoliu aquilo sem digerir, e creio que eu também porque nos padrões de comportamento absorvidos por mim na época não me cabia entendimento.
Se uma pessoa não transa, ela é santa. Se esconde o que faz, é séria. Se ela vai pelo caminho que deseja, então a rotulam.
Aprendeu também a obter o prazer artificialmente. Das drogas ao Rock'n roll rolou de tudo.
Na sua busca solitária ganhou ritmo numa escalada mortal, experimentando todos os conceitos que a vida lhe apresentou.
Dançou nu na frente de nossa casa, indo dormir na prisão em companhia de um livro -Reich, levado por Robson;
Hoje acho que sei da muralha que ele ultrapassou e o quanto se sentiu sozinho do outro lado. Sei de sua coragem, sei da nudez que ele nos apresentou. O rei estava nu. Nu de todas as convenções que quiseram lhe impor.
Só sei que seu caminho foi traçado, e encerrado por ele mesmo. Na sua partida deixou belos poemas sobre Brasília e sobre si, barbeou-se. Na sua despedida, ficou o emblema do sem jeito. Pessoas iam ver e constatar o fato estampado em seu pescoço, que cobri com flores e desamarrei suas mãos. Vejam pois um pássaro com mãos atadas. O que diria Deus?
Sonhei sonhos horríveis com ele, amanhecendo em claro. Porém um dia, um sonho lindo, e último. Acredito que encontrou seu caminho naquele dia.
No clube companheiro na natação e volei. No início eu me sobressaía, mas não tardou a me mostrar o quanto era superior. Às vezes fico tentando desvendar outros caminhos que ele seguiu e eu não participei, por que a gente estava sempre junto.
Era apontado por todos como o gênio da família e da rua. Desde muito cedo consertava os eletrônicos, fazia as instalações elétricas das casas que meu pai construia, passou na UnB sem fazer cursinho, montou seu som equalizado e equipou uma discoteca em casa, onde faziamos sons aos sábados depois de bem encerar os tacos e jogar bastante talco, adorava música, fã de kraftwert, caetano e miltom.
A vida nos dá espaços e em algum ponto me vi diante de suas próprias convicções, uma característica sua era a capacidade de chegar ao extremo de tudo. Seu bolo de chocolate feito num ritual de preparo sobre os olhos dos sobrinhos é lembrado até hoje. Que delícia!
Na Universidade se declarou homossexual. Não com palavras, porque ele nunca falou sobre isso com ninguém que eu tenha conhecimento. Não sobre ele. Falava sim do homem em potencial. A sua posição me intrigou muito. É incrível como a gente diante de certas coisas não consegue encontrar o coeficiente comum. A família engoliu aquilo sem digerir, e creio que eu também porque nos padrões de comportamento absorvidos por mim na época não me cabia entendimento.
Se uma pessoa não transa, ela é santa. Se esconde o que faz, é séria. Se ela vai pelo caminho que deseja, então a rotulam.
Aprendeu também a obter o prazer artificialmente. Das drogas ao Rock'n roll rolou de tudo.
Na sua busca solitária ganhou ritmo numa escalada mortal, experimentando todos os conceitos que a vida lhe apresentou.
Dançou nu na frente de nossa casa, indo dormir na prisão em companhia de um livro -Reich, levado por Robson;
Hoje acho que sei da muralha que ele ultrapassou e o quanto se sentiu sozinho do outro lado. Sei de sua coragem, sei da nudez que ele nos apresentou. O rei estava nu. Nu de todas as convenções que quiseram lhe impor.
Só sei que seu caminho foi traçado, e encerrado por ele mesmo. Na sua partida deixou belos poemas sobre Brasília e sobre si, barbeou-se. Na sua despedida, ficou o emblema do sem jeito. Pessoas iam ver e constatar o fato estampado em seu pescoço, que cobri com flores e desamarrei suas mãos. Vejam pois um pássaro com mãos atadas. O que diria Deus?
Sonhei sonhos horríveis com ele, amanhecendo em claro. Porém um dia, um sonho lindo, e último. Acredito que encontrou seu caminho naquele dia.
quinta-feira, 10 de maio de 2007
OURO PRETO
De volta ao passado recordo minha rua. Que não pode ser retratada sem a menção da rua perpendicular que a cortava.
Em minha rua, famílias estáveis em que pai, mãe, filhos trilhavam caminhos já percorridos por outras gerações.
Na perpendicular, havia uma rua, na qual funcionava a zona - lugar que me inquietava. Existia um ar de mistério, por que ninguém falava a respeito. Fui tomando um conhecimento particular de sua função. Nunca tive a visão do interior dessas casas. Casas com homens no portão, bicicletas estacionadas, músicas apelativas.
Me lembro bem daquelas mulheres que passavam em charretes belas, parecendo carruagens, com seus longos coques, belos vestidos, sapatos altos, sempre perfumadas, passeando pelas ruas. Quando passavam, deixavam alguma coisa no ar, que eu não entendia o que era.
Até quando me lembro, aquilo já não estava em seu auge. Auge que teve até a interferência da igreja e suas beatas. Segundo me contaram, o padre, em procissão com as mulheres, quebraram as casas.escomungando a todos. Mas debaixo dos panos, o negócio ía de vento em polpa. Em declínio, mas funcionando.
Mais tarde, quando apenas algumas casas restaram, tive contato com famílias que tinham filhos bastardos de mulheres recolhidas por homens, para formarem suas famílias. Filhos esses apontados por todos como ilegítimos e despreferidos pelos pais.
Então tive contato com uma dessas casas. Era uma casa, com uma grande sala que dava entrada para um corredor, com quartos alinhados. Cada quarto tinha uma cama de casal, uma penteadeira e um banheiro. Brincávamos pulando nos seus colchões de mola. E eu alí, com poucos anos, tentando entender seu passado velado, que não deixou de me influenciar.
É fato que todos os homens de minha rua freqüentavam ou freqüentaram aquelas casas.
Meu pai, em particular, as freqüentou. Da sua pinga no final da tarde, no boteco da esquina, com desaparecimento abrupto, diante dos meus olhos vigilantes.
Sim, havia aquele buraco negro que engolia os homens e os devolviam sorridentes para suas famílias.
Então, faço a comparação. Me pergunto, se era melhor ou pior que agora. Em que aquela concretude familiar passou a ser bastante maleável, em que, essas mulheres, no seio familiar, são como camaleões, se mesclando no cotidiano vazio de definições.
MOTO-CONTINUO
É mais forte que eu... não, a verdade é que eu sou mais forte que isto. Então tenho repulchões de mim sobre mim. Luta interna, num reboliço de posição. Um querendo ir outro querendo ficar. A quem ouvir? As vozes se mesclam. Um está para o outro, o outro esta para um. E o dominante sabe que "eu", sei das grades que me cercam. Sei do calibre que me detem... merda.
terça-feira, 8 de maio de 2007
AUTENTICIDADE
Se escrevo sobre mim tão claramente e com tanta insistência é porque quero dizer a todos que tento entender a vida. Quero dizer que se fico calada é porque me falta entendimento ou assunto. Se me sinto feliz é porque realmente me sinto feliz ou não. Se me agridem quero reagir. Por isso não vamos fazer vista grossa e nem tapar o sol com a peneira.
Ah, se pudesse contar por um instante o que meu coração carrega... Na vida existe um caminho natural e um caminho que as pessoas buscam como o ideal, o futuro garantido com as verdinhas brilhando.
Eu tentei ler entre os segundos o que o dia pedia a meu coraçao. E vejam "paguei o preço" não restando nada além de mim mesmo pra agir e reagir. Isso é entrega, comprometimento. Quem neste mundo de tantos caminhos fáceis preferiu subir a ladeira? E grito que estou onde lutei pra estar. E digo que não foi nada fácil. E se alguém que não pagou o preço, que foi pelo caminho mais fácil que quer pousar de disco voador, que quer fazer do meu caminho difícil, agora facil, o seu caminho oportuno, diante de sua desgraça pessoal. Quer chegar de salto alto onde andei descalço e dançar o seu happy day. Pois abro meu caminho pra você. Mas não sei se vai lhe ser útil, porque dos degraus que subi um levou ao outro numa longa jornada. E você com seu sapato alto pode cair tentando subir todos de uma vez se estatelando no seu orgulho. Seu caminho você escolheu e ele pode levar a você que anda tão perdido no seu jogo de interesses. Colha seus frutos.
quinta-feira, 26 de abril de 2007
RASCUNHO DO FUTURO
Comecei a recordar e de repente me dei com uma pergunta: Onde foram parar meus brinquedos? Que não eram tantos, mas me lembro especialmente de uma boneca que me acompanhou durante um bom tempo. Ela foi um presente de Natal, e uma boneca com cabelo naquela época, pra mim foi uma realização total.
No quintal de minha casa tinha um paiol, onde meu pai criava porcos em baixo e em cima eu me instalei com meus brinquedos. Ali a boneca desempenhava o papel de minha filha e eu, senhora, mandava e desmandava. Fazia e acontecia. Minha imaginação rondava todo o possível e o impossível. Como em minha casa não se fazia árvore de Natal, ali eu tinha a minha, com algodão e goiabas verdes pintadas com giz. Ali dei aula com freqüência e tudo, para as crianças mais novas. Fiz cozinhadinho.
E o tempo passou... É incrível como o tempo passa sorrateiro, fazendo cócegas com novos e novos brinquedos.
E sem querer fui me transformando, escondendo meus seios como se escondesse um pecado. Rasguei também vários lençóis até entender e aceitar aquilo que meu corpo impunha.
Quando desencantei de meu mundo imaginário, não lembro. Mas sei que continuei brincando com bonecas verdadeiras, com quem compartilhava todo o conhecimento adquirido com os brinquedos. E participei de suas infâncias como uma criança crescida que sabe da importância de se rascunhar a vida, por que as brincadeiras mudam de facetas, nos encantando para que nós possamos aguentar o duro e aprender em direção ao nada.
No quintal de minha casa tinha um paiol, onde meu pai criava porcos em baixo e em cima eu me instalei com meus brinquedos. Ali a boneca desempenhava o papel de minha filha e eu, senhora, mandava e desmandava. Fazia e acontecia. Minha imaginação rondava todo o possível e o impossível. Como em minha casa não se fazia árvore de Natal, ali eu tinha a minha, com algodão e goiabas verdes pintadas com giz. Ali dei aula com freqüência e tudo, para as crianças mais novas. Fiz cozinhadinho.
E o tempo passou... É incrível como o tempo passa sorrateiro, fazendo cócegas com novos e novos brinquedos.
E sem querer fui me transformando, escondendo meus seios como se escondesse um pecado. Rasguei também vários lençóis até entender e aceitar aquilo que meu corpo impunha.
Quando desencantei de meu mundo imaginário, não lembro. Mas sei que continuei brincando com bonecas verdadeiras, com quem compartilhava todo o conhecimento adquirido com os brinquedos. E participei de suas infâncias como uma criança crescida que sabe da importância de se rascunhar a vida, por que as brincadeiras mudam de facetas, nos encantando para que nós possamos aguentar o duro e aprender em direção ao nada.
quinta-feira, 5 de abril de 2007
CABEÇA BAIXA
Abriu-se uma fresta e por ela vazou-se uma porra que impregnou tudo o que havia de belo.
Uma porra visguenta, fedida, velha que a tudo contaminou.
Tenta-se em vão contornar a situação ali instalada.
Porras novas jorraram aos borbotões, mas não tiveram efeito sobre a sujeira.
Aceitando a camuflagem que ali se instalou de maneira concreta.
Abaixou-se a cabeça.
Uma porra visguenta, fedida, velha que a tudo contaminou.
Tenta-se em vão contornar a situação ali instalada.
Porras novas jorraram aos borbotões, mas não tiveram efeito sobre a sujeira.
Aceitando a camuflagem que ali se instalou de maneira concreta.
Abaixou-se a cabeça.
quinta-feira, 22 de março de 2007
TPM
Na cozinha, sozinha, ela se esmera e se apressa em preparar o almoço. Compromisso diário chova ou faça sol.
Bom, ela afogou o arroz, o feijão e fritou os bifes. Correu na esquina, comprou coisas para a salada. Fez um suco. E pronto. Missão cumprida... E nesse momento ela se satisfez, se sentiu viva.
Sem apetite e talvez se não fosse esse compromisso faria outras coisas... Que nem ela mesma sabia quais seriam.
No decorrer da sua vida participou na realização de muitos sonhos, mas não os seus. Os seus sonhos eram os sonhos dos outros e já nem se lembrava dos sonhos que tivera um dia, eles foram esmagados.
E ultimamente ela começava a questionar essa sua posição diante da vida. Mas consigo mesma, por que ninguém iria perder tempo em ouvir suas lamúrias. Então ela mastigava suas questões entre um afazer e outro.
Bom, o almoço estava pronto e depois de certo tempo ficou claro que ninguém apareceria. Encontraram outros caminhos e já nem se lembram que em sua casa, na cozinha, borbulhavam sabores... Que delícia...
A sua cozinha se tornou um aparato do dia a dia, que estava sempre ali, indiferente do quorum. E como ela estava intimamente ligada aquela situação, ela se sentiu absoleta. Sentiu que já nem poderia ajudar nos sonhos dos outros, que conseguiam autonomia a cada dia e já nem precisavam de seus cuidados. Distanciavam-se de sua capacidade de ajuda.
Ficou triste, tentou se consolar, tentou ignorar, era mestre nisso. Tentou sonhar. Tentou sentir o que sentia, o que queria, o que fazer? Então, chegou a uma conclusão: “Havia caído em desuso”.
E lá de dentro um gritinho cada vez mais alto lhe chamava para viver para si. Sim... Quem sou eu?
Bom, ela afogou o arroz, o feijão e fritou os bifes. Correu na esquina, comprou coisas para a salada. Fez um suco. E pronto. Missão cumprida... E nesse momento ela se satisfez, se sentiu viva.
Sem apetite e talvez se não fosse esse compromisso faria outras coisas... Que nem ela mesma sabia quais seriam.
No decorrer da sua vida participou na realização de muitos sonhos, mas não os seus. Os seus sonhos eram os sonhos dos outros e já nem se lembrava dos sonhos que tivera um dia, eles foram esmagados.
E ultimamente ela começava a questionar essa sua posição diante da vida. Mas consigo mesma, por que ninguém iria perder tempo em ouvir suas lamúrias. Então ela mastigava suas questões entre um afazer e outro.
Bom, o almoço estava pronto e depois de certo tempo ficou claro que ninguém apareceria. Encontraram outros caminhos e já nem se lembram que em sua casa, na cozinha, borbulhavam sabores... Que delícia...
A sua cozinha se tornou um aparato do dia a dia, que estava sempre ali, indiferente do quorum. E como ela estava intimamente ligada aquela situação, ela se sentiu absoleta. Sentiu que já nem poderia ajudar nos sonhos dos outros, que conseguiam autonomia a cada dia e já nem precisavam de seus cuidados. Distanciavam-se de sua capacidade de ajuda.
Ficou triste, tentou se consolar, tentou ignorar, era mestre nisso. Tentou sonhar. Tentou sentir o que sentia, o que queria, o que fazer? Então, chegou a uma conclusão: “Havia caído em desuso”.
E lá de dentro um gritinho cada vez mais alto lhe chamava para viver para si. Sim... Quem sou eu?
domingo, 18 de março de 2007
ALMAS SECAS
De férias em Brodowski fomos, o Robson e eu, a uma Lan House para que ele, já inserido nas vias "internéticas", colocasse seus e-mails, orkut, blogs, de acordo com a sua inspiração do dia, que não tinha nada a dever aos céus. Surgindo coisas maravilhosas e também outras obrigações nem tanto urgentes, mas sementes necessárias de uma linguagem em nascimento.
Quando chegavamos a Lan fiquei absorta observando a beleza, o mistério, e ao mesmo tempo o descaso e o abandono da casa onde funcionava a Lan.
A casa me intrigou bastante, me tocou profundamente vê-la consumidade pela modernidade, "pela força da grana que ergue e destrói coisas belas." Me indiguinei mais ainda.
No seu jardim uma fonte, única, que deve ter sido em outros tempos o ponto máximo da arquitetura local e que agora passa desapercebida. Um pequeno altar incrustado na parede, agora orfão de santo, também muito significatio. A varanda apoiada em finos canos, que sustentam a laje, com a garagem ao lado, que parece nunca ter sido usada. A casa toda de laje, coisa rara em tempos antigos. Paredes com tijolos deitados, bem largas, sendo que cada janela dá direito a um bom encosto. Janelas com venezianas iluminando toda a casa. Obs.: quando se entra na casa, sente-se a agressão. As paredes foram pintadas de preto para caracterizar uma coisa punk, metálica, submundo com computadores alinhados rumo ao futuro.
Eu uma analfabeta digital, diante de tantos jovens, com tantas direções na tela, às vezes até interagindo entre eles. Indiferentes ao meio externo. Pouca luz, ventiladores de parede e teto a todo vapor, janelas lacradas com compensados, não deixando entrar luz, que atrapalharia a visão do monitor.
Na entrada uma sala enorme com dois ambientes, com uma singela lareira e já sem seus lustres, substituídos por luz neon, paredes negras grafitadas. Adentrando mais um pouco, chega-se a outra sala, também negra, janela e portas lacradas, mas com lustre ainda no lugara, empoeirado, mas imponente.
Um quarto ao lado com enorme guarda-roupa lacrado com a rede elétrica provisória, janela sem visão e outros tantos cibernéticos. Me sentindo exclusa comecei a tentar enlaçar o presente com o passado. Mil perguntas me vieram a mente. Como se viveu naquela casa? O que poderia ter acontecido para que aquele primor arquitetônico estivesse ali sendo tão escrachado? Uma casa orfã de passado? Será que não se criou ali nenhum tipo de consciência?
E não podia fazer nada, a não ser bancar a arqueóloga, e tentar tirar de sua composição o seu passado. Noutro dia falando com o Emílio, morador antigo do lugar, que me disse ter sido aquela casa a mais bonita da cidade. Construída por uma mulher, apenas por ela, que se casou depois de um namoro de longos trinta anos, não deixando filhos. E já os dois falecidos. Essa questão me arremeteu a uma questão que há muito me ronda. Não poder colocar na bagagem a casa de minha infância.
Será que somente os filhos tem prazer em preservar a memória dos seus pais, de sua casa? Moraria ali alguém que se deva apagar urgente da memória?
Quem se tornou o infeliz proprietário?
Quando chegavamos a Lan fiquei absorta observando a beleza, o mistério, e ao mesmo tempo o descaso e o abandono da casa onde funcionava a Lan.
A casa me intrigou bastante, me tocou profundamente vê-la consumidade pela modernidade, "pela força da grana que ergue e destrói coisas belas." Me indiguinei mais ainda.
No seu jardim uma fonte, única, que deve ter sido em outros tempos o ponto máximo da arquitetura local e que agora passa desapercebida. Um pequeno altar incrustado na parede, agora orfão de santo, também muito significatio. A varanda apoiada em finos canos, que sustentam a laje, com a garagem ao lado, que parece nunca ter sido usada. A casa toda de laje, coisa rara em tempos antigos. Paredes com tijolos deitados, bem largas, sendo que cada janela dá direito a um bom encosto. Janelas com venezianas iluminando toda a casa. Obs.: quando se entra na casa, sente-se a agressão. As paredes foram pintadas de preto para caracterizar uma coisa punk, metálica, submundo com computadores alinhados rumo ao futuro.
Eu uma analfabeta digital, diante de tantos jovens, com tantas direções na tela, às vezes até interagindo entre eles. Indiferentes ao meio externo. Pouca luz, ventiladores de parede e teto a todo vapor, janelas lacradas com compensados, não deixando entrar luz, que atrapalharia a visão do monitor.
Na entrada uma sala enorme com dois ambientes, com uma singela lareira e já sem seus lustres, substituídos por luz neon, paredes negras grafitadas. Adentrando mais um pouco, chega-se a outra sala, também negra, janela e portas lacradas, mas com lustre ainda no lugara, empoeirado, mas imponente.
Um quarto ao lado com enorme guarda-roupa lacrado com a rede elétrica provisória, janela sem visão e outros tantos cibernéticos. Me sentindo exclusa comecei a tentar enlaçar o presente com o passado. Mil perguntas me vieram a mente. Como se viveu naquela casa? O que poderia ter acontecido para que aquele primor arquitetônico estivesse ali sendo tão escrachado? Uma casa orfã de passado? Será que não se criou ali nenhum tipo de consciência?
E não podia fazer nada, a não ser bancar a arqueóloga, e tentar tirar de sua composição o seu passado. Noutro dia falando com o Emílio, morador antigo do lugar, que me disse ter sido aquela casa a mais bonita da cidade. Construída por uma mulher, apenas por ela, que se casou depois de um namoro de longos trinta anos, não deixando filhos. E já os dois falecidos. Essa questão me arremeteu a uma questão que há muito me ronda. Não poder colocar na bagagem a casa de minha infância.
Será que somente os filhos tem prazer em preservar a memória dos seus pais, de sua casa? Moraria ali alguém que se deva apagar urgente da memória?
Quem se tornou o infeliz proprietário?
Assinar:
Postagens (Atom)